Qual é o principal sinal de alerta que faz você perceber que não está tendo um bom dia, ou que seu humor está indo ladeira abaixo? Pra mim, é quando começo a pensar no quão idiotas as coisas são. Tudo, absolutamente tudo. Normalmente, me sinto vivendo dentro da minha bolha, e imagino que você também. Acho que, no fundo, é assim pra todo mundo. Mas quando a coisa degringola, é como se surgisse uma rachadurazinha no meu aquário. Não gosto de falar sobre isso, porque soa como coisa de conspiracionista pretensioso que acha que saiu da matrix, mas uma vez que essa rachadura aparece, parece que eu fico com o trabalho constante de consertar o buraquinho.
O problema é que, quando começo a ver o quão idiota tudo é, fica difícil voltar pra dentro da minha bolha e fingir que está tudo bem. Na maior parte do tempo eu nem quero sair dela, pra ser honesta, porque sei o quanto as coisas lá fora são igualmente idiotas. Só que, quanto mais penso nisso, mais deprimida fico.
Por exemplo, já parou pra pensar no quão ridículo é uma academia cheia? Um monte de gente fazendo movimentos repetitivos em máquinas, muitas delas ouvindo podcasts de discursos motivacionais tão ridículos quanto a cena toda. E eu não fico fora disso.
Perceber isso me faz sentir patética e insignificante. Por que estamos num cubículo cercados de estranhos, levantando pesos ou pedalando numa bicicleta que não sai do lugar? Por que eu guardo meu dinheiro, sendo que gastar tudo em maquiagens ridículas da Too Faced me traria uma alegria instantânea? Por que eu não posso olhar nos olhos das pessoas e dizer exatamente o que penso, sem medo de magoar o ego delas? Por que tenho que continuar fingindo que essas mentirinhas sociais são essenciais pro convívio? Meu deus, tudo é tão patético.
Por um lado, por que eu deveria me sentir significante? Eu deveria, supostamente, ser importante a esse ponto? Qual seria o critério para isso, afinal? Talvez eu pudesse fazer algo pra me sentir menos ridícula, mas será que funcionaria? Talvez não viver do jeito que vivo agora me ajudasse a me sentir mais humanizada. Mais pessoa, menos coisa.
Porque, honestamente, eu não me sinto pessoa quando estou espremida entre desconhecidos no metrô lotado, com cheiro de gente, pressa de gente, cansaço de gente. Ali, eu sou só uma coisa. Me sinto pessoa quando viajo, quando visito uma exposição de arte, quando algo me tira dessa rotina esmagadora e me devolve, ainda que temporariamente, a ideia de que existo de verdade.
Mas na maioria dos dias, eu não me sinto pessoa. Talvez seja esse o combustível do meu pessimismo. Essa ausência de uma identidade tangível, de algo que me faça sentir que sou alguém.
eu amo a palavra degringolar.