Ver minha mãe era desesperador. Nela, eu enxergava um futuro que tentava evitar desde os meus treze anos. Sua presença pesava, opressiva, como a de um fantasma rondando a casa. Ela estava viva, mas talvez desejasse não estar.
Falar dela era uma dor profunda, como uma adaga cravada no peito. Sentia-me horrível, quase monstruosa, por não conseguir amá-la em seu momento mais vulnerável. Ao mesmo tempo, compreendia as raízes do meu ressentimento. Embora muitas vezes eu tenha verbalizado o que chamava de ódio, sabia que, no fundo, não era bem isso. Ela sempre esteve ali, uma sombra grudada a mim, tão familiar quanto estranha. Evitava olhar para ela, mas sabia que estava lá, uma parte de mim que, embora inescapável, era difícil de encarar. Às vezes, confrontar a própria sombra é uma angústia insuportável.
Frequentemente, eu me via invejando amigas ou outras garotas que recebiam carinho de tantas formas - palavras, validações, presentes. Queria saber como aceitar esses gestos, sentir-me digna deles. A vida dos outros parecia tão bonita, como se eu estivesse assistindo a um filme. Mas a verdade é que eu nunca soube corresponder às expectativas afetivas de quase ninguém, o que me fazia pensar que talvez nunca fosse receber o tipo de atenção que outras garotas recebiam. Isso me fazia sentir como uma figurante no mundo, falhando em atender não apenas às necessidades emocionais dos outros, mas, talvez, às minhas próprias.
Quero ser útil, quero ser amada, quero ser tudo o que minha mãe desejou ser. Sinto tanto por ela, sinto tanto por mim. E, assim como ela, às vezes peço para não estar viva. Somos dolorosamente parecidas; ela me assombra, e eu a assombro. Somos uma adaga de duplo gume, cravada no peito uma da outra.
Não sei se devo agradecer por ter feito essa junção dolorosa de palavras que tanto me vi, ou se devo dizer que sinto muito e que gostaria que fosse diferente (para nós duas), para que esses dizeres jamais existissem.
Sinto por ti e sinto por mim. Me vi em suas palavras e por isso compartilho o que carrega consigo. Foi como se tivesse pego um pedaço de mim e o transcrito, e ainda não fui capaz de digerir essa verdade, mesmo que já estivesse ciente dela há um bom tempo.
Que nossos corações se curem e que o amor por tudo o que importa nos preencha além da dor.
que profundo e doloroso :(